19 agosto 2007

FREDERICO

Mais uma novidade na biblioteca: "FREDERICO". O autor é Leo Lionni, os desenhos são de Ana Barros, a tradução foi feita pela Dora Batalim.
É a história de um ratinho poeta:
Cercando o prado, onde as vacas pastavam e os cavalos corriam, havia um velho muro de pedra. Nesse muro, não muito longe do estábulo e do celeiro, uma tagarela família de ratos do campo tinha feito a sua casa. Os agricultores haviam partido, deixando o estábulo abandonado e o celeiro vazio. E, como o Inverno estava a chegar, os ratinhos começaram a recolher milho, nozes, trigo e palha. Todos trabalhavam dia e noite. Todos menos um, Frederico.
- E tu porque é que não trabalhas, Frederico? – perguntavam os outros.
- Eu estou a trabalhar! – dizia Frederico.
-Apanho raios de sol para os dias frios e escuros de Inverno.
E quando viam Frederico ali sentado, olhando o prado, os outros ratos diziam-lhe:
- E agora, Frederico?
Ele respondia, simplesmente:
- Recolho cores para os dias cinzentos do Inverno.
Noutra ocasião, Frederico parecia meio-adormecido.
- Estás a sonhar, Frederico? – perguntaram-lhe em tom reprovador.
Mas Frederico respondeu-lhes:
- Ah não! Estou a juntar palavras! É que os dias no Inverno são muito longos e podemos ficar sem nada para dizer...
Chegaram os dias de Inverno e, quando caiu a primeira neve, os cinco ratinhos do campo abrigaram-se no seu esconderijo entre as pedras. No início, havia muito que comer e os ratos contavam histórias de raposas tolas e gatos patetas. Eram uma família feliz. Só que, aos poucos, foram comendo todas as nozes, acabaram com a palha, e o milho não era mais do que uma longínqua memória. No muro de pedra fazia muito frio e ninguém tinha vontade de conversar. Então lembraram-se daquilo que Frederico tinha dito sobre os raios de sol, as cores e as palavras.
- E as coisas que tu armazenaste, Frederico? - perguntaram eles.
- Fechem os olhos - disse Frederico, enquanto subia a uma pedra muito alta.
- Agora vou mandar-vos os raios de sol. Deixem-se envolver pelo seu brilho dourado...
E enquanto Frederico lhes falava do sol, os quatro ratinhos começaram a sentir-se mais aquecidos. Seria da voz de Frederico? Seria mágica?
- E as cores, Frederico? - perguntaram-lhe ansiosamente.
- Fechem os olhos outra vez. - disse ele.
E quando lhes falou dos miosótis azuis, das papoilas vermelhas nos campos de trigo amarelo e do verde das folhas dos arbustos, viram as cores tão claramente como se estas tivessem sido pintadas no seu pensamento.
- E as palavras, Frederico?
Frederico aclarou a voz, esperou um momento, e então, como se estivesse num palco, começou:
- Quem sopra os flocos de neve? Quem derrete o gelo frio? Quem põe o tempo sombrio? Quem o faz outra vez alegre? Quem dá quatro folhas ao trevo e muitas mais à árvore nua? Quem apaga a luz do dia? Quem acende no céu a lua?
- Quatro ratinhos do campo dó - ré - mi - fá - sol - lá - si. Quatro ratinhos do campo... falam de mim e de ti.
- O ratinho da Primavera acorda todas as flores. E depois, o do Verão pinta-as de todas as cores. O rato - Outono traz nozes e folhas amareladas. O do Inverno é o último e vem com as patinhas geladas. As estações são quatro, cada uma com o seu momento. Variam, temos muita sorte, fazem passar o tempo
.
Quando Frederico acabou, todos aplaudiram.
- Mas, Frederico - disseram. Tu és um poeta!
Frederico corou, fez uma vénia e disse timidamente:
- Eu sei.

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